
Estudo revela queda drástica na vazão dos rios do Cerrado, com perda equivalente a 30 piscinas olímpicas por minuto desde os anos 1970. Desmatamento, avanço da soja e legislação ambiental permissiva são apontados como os principais responsáveis pelo colapso que ameaça o abastecimento de água, energia e alimentos no país
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – Considerado o coração hídrico do Brasil, o Cerrado enfrenta um colapso sem precedentes. Um novo estudo aponta que a vazão dos principais rios do bioma caiu 27% desde a década de 1970 – uma perda equivalente a 30 piscinas olímpicas de água que deixam de correr por minuto. A principal causa é a substituição da vegetação nativa por lavouras de commodities, especialmente soja, associada ao enfraquecimento da legislação ambiental.
O alerta vem do relatório “Cerrado: O Elo Sagrado das Águas do Brasil“, publicado nesta segunda-feira (23) pela Ambiental Media. A pesquisa se baseia em 51 anos de dados da Agência Nacional de Águas (ANA) e aponta que o bioma está perdendo sua função de “caixa-d’água do Brasil”, com impactos em larga escala sobre oito das doze grandes bacias hidrográficas nacionais.
O Cerrado em números: retrato de uma crise
- 27% de redução de vazão: Volume de água nos principais rios caiu drasticamente desde os anos 1970.
- 21% menos chuvas: Queda na precipitação média anual nas bacias analisadas.
- +1.900% de expansão da soja: A área plantada saltou de 620 mil para mais de 12 milhões de hectares entre 1985 e 2022.
- 22% de perda de vegetação nativa: Cobertura original do bioma desapareceu nas últimas cinco décadas.
- 56 dias a menos de chuva: O período chuvoso encolheu em quase dois meses.
As raízes da crise: desmatamento e esgotamento
“A atividade que mais depende da água é a que mais colabora com sua escassez”, alerta Yuri Salmona, coordenador científico do relatório.
Segundo ele, o desmatamento para o cultivo de soja, aliado à irrigação intensiva e às mudanças climáticas, é o principal vetor de ressecamento. As raízes profundas das plantas nativas são essenciais para a infiltração da água da chuva no solo e a recarga dos aquíferos. Sem essa cobertura, a água escorre rapidamente pela superfície, provocando erosão e dificultando a alimentação dos rios durante a seca.
Impactos por bacia: efeito cascata
- Rio São Francisco: A situação mais crítica. A vazão caiu 50% e a bacia, com 93% de suas águas originadas no Cerrado, sofre com o avanço da soja no oeste da Bahia.
- Rio Taquari: Essencial para o Pantanal, teve o maior aumento de evapotranspiração (12%), o que agrava a seca da maior planície alagada do mundo.
- Rio Parnaíba: Maior redução de chuvas, com queda de 38%. A área com soja cresceu de sete hectares para 1,6 milhão em menos de 40 anos.
- Bacia do Paraná: Fonte de água da usina de Itaipu, perdeu 18% de vazão. A produção de soja na região aumentou quase 1.000%.
Legislação frágil e política de sacrifício
A legislação ambiental vigente colabora com o cenário. O Código Florestal exige que apenas 20% da vegetação nativa sejam preservados em propriedades no Cerrado — muito abaixo dos 80% exigidos na Amazônia. Para os especialistas, isso equivale a uma permissão para devastar.
“Dentro de um plano nacional, o Cerrado está sendo tratado como bioma de sacrifício. Isso é inaceitável”, critica Salmona.
Mesmo com a retomada do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento no Cerrado (PPCerrado) em 2023, os especialistas afirmam que as medidas ainda são tímidas e ineficazes. A degradação avança e coloca em risco a segurança hídrica, energética e alimentar do país.
Caso de Política | A informação passa por aqui.
#Cerrado #CriseHídrica #SalveOCerrado #SegurançaHídrica #Desmatamento #MeioAmbiente #Soja #Agropecuária #MudançasClimáticas #SOSCerrado #AmbientalMedia #VazãoDosRios #Pantanal #BaciasHidrográficas #CerradoUrgente