
Ex-presidente volta a fazer declarações públicas mesmo proibido e tenta reforçar narrativa de mártir político entre aliados
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – Em mais um movimento de confronto institucional, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) desobedeceu, nesta segunda-feira (21), ordem expressa do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e voltou a se manifestar politicamente diante de apoiadores na Câmara dos Deputados. A fala foi transmitida ao vivo por aliados, o que configura quebra de medida cautelar e pode levá-lo à prisão imediata.
Segundo o Diário do Centro do Mundo (DCM), Bolsonaro exibiu publicamente a tornozeleira eletrônica que passou a usar por determinação do STF, como medida para evitar fuga do país e inibir ações de intimidação contra ministros da Corte, da Procuradoria-Geral da República (PGR) e da Polícia Federal. O dispositivo foi imposto após pedido da própria PGR, dentro do inquérito que apura sua tentativa de golpe de Estado e ataques ao Estado Democrático de Direito.
Em tom de desafio, Bolsonaro classificou o monitoramento eletrônico como “humilhação” e “covardia”, numa tentativa clara de reforçar sua narrativa de perseguição política:
Ele mostrou. Olha aí a tornozeleira do Bolsonaro. pic.twitter.com/rWtQtBfHW8
— GugaNoblat (@GugaNoblat) July 21, 2025
“Não roubei os cofres públicos, não desviei recurso público, não matei ninguém, não trafiquei ninguém. Isso aqui é um símbolo da máxima humilhação em nosso país. Uma pessoa inocente. Covardia o que estão fazendo com um ex-presidente da República. Nós vamos enfrentar a tudo e a todos. O que vale para mim é a lei de Deus”, declarou.
Embora orientado por aliados a cancelar uma coletiva de imprensa previamente planejada — após nova decisão de Moraes vetando qualquer divulgação de suas falas — o ex-presidente fez questão de comparecer ao Parlamento, expondo a tornozeleira diante das câmeras de celulares. O ato foi transmitido e imediatamente repercutido nas redes sociais, violando a determinação judicial que o proíbe de dar entrevistas ou se manifestar politicamente.
A atitude marca mais um episódio da tática de vitimização adotada por Bolsonaro desde que perdeu a presidência. Isolado politicamente e com crescente desgaste público, o ex-mandatário tenta preservar sua influência numa bolha radicalizada, onde o enfrentamento ao STF é visto como ato de heroísmo. No entanto, fora desse núcleo, seu comportamento é interpretado como desprezo às instituições e ao devido processo legal.
Ao escolher o palco da Câmara dos Deputados, Bolsonaro buscou criar um espetáculo político, mas acabou fornecendo mais elementos à Justiça para endurecer medidas contra ele. A avaliação entre juristas e observadores políticos é de que o gesto extrapola os limites da liberdade de expressão e se configura como afronta deliberada ao Judiciário. A prisão preventiva, que já era cogitada, agora se torna uma possibilidade real e iminente.
A insistência em burlar as regras impostas e desafiar o STF faz parte de uma estratégia de sobrevivência baseada no conflito contínuo com as instituições democráticas. Mas o efeito prático pode ser o oposto do desejado: acelerar sua própria derrocada política e jurídica. Enquanto tenta se projetar como mártir, Bolsonaro aprofunda seu isolamento e alimenta uma radicalização que pode custar caro ao campo da direita institucionalizada.
A situação segue sendo monitorada de perto pelas autoridades em Brasília, e novas determinações podem ser emitidas ainda nesta semana. O desfecho dependerá da avaliação do STF sobre a gravidade da violação e da disposição do Estado brasileiro em aplicar a lei a qualquer custo — inclusive contra um ex-presidente da República.
Caso de Política | A informação passa por aqui.
#Bolsonaro #STF #AlexandreDeMoraes #Tornozeleira #CriseInstitucional