Presidente da Indonésia é recebido com honras em visita de Estado; enquanto isso, EUA anunciam tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, acentuando realinhamento diplomático de Brasília com o Sul Global
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu nesta quarta-feira (9), em Brasília, o presidente da Indonésia, Prabowo Subianto, para uma visita de Estado que consolida uma nova etapa nas relações estratégicas entre os dois países. A recepção ocorreu no mesmo dia em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros, medida que tensiona a relação com Washington e reforça o movimento do Brasil em direção a alianças no Sul Global.
O encontro com Prabowo aconteceu logo após a 17ª Cúpula do BRICS, no Rio de Janeiro, onde a Indonésia participou pela primeira vez como membro pleno do bloco. No Palácio do Planalto e no Itamaraty, Lula e Prabowo firmaram compromissos em comércio, meio ambiente, energia, inovação e segurança alimentar, consolidando uma parceria de longo prazo entre as duas maiores democracias tropicais do mundo.
Em 2024, a Indonésia se tornou a 8ª maior economia global em termos de PIB ajustado pela paridade de poder de compra (PPP), segundo o FMI, com um volume estimado em US$ 4,66 trilhões, superando França e Reino Unido. A expectativa, segundo projeções do McKinsey Global Institute e do HSBC, é que o país asiático figure entre as cinco maiores economias do planeta até 2045, podendo alcançar a 4ª posição caso mantenha sua trajetória de crescimento e reformas estruturais.
No cenário bilateral, o fluxo comercial Brasil–Indonésia atingiu US$ 6,3 bilhões em 2024, com Jacarta figurando como o quinto maior destino das exportações do agronegócio brasileiro. Mas a agenda entre os dois países vai além das commodities. Os presidentes consolidaram acordos no valor de US$ 2,65 bilhões em setores como energia limpa, infraestrutura e agricultura sustentável.
Um dos principais anúncios foi o memorando de entendimento entre a Embraer e a estatal indonésia Dirgantara Indonesia (DI), que prevê cooperação na produção de aeronaves e transferência de tecnologia no setor aeroespacial.
O Brasil também avançou na abertura de mercado para novos produtos agrícolas, como a erva-mate, e sinalizou interesse em parcerias nas cadeias verdes de veículos elétricos, energia renovável e minerais estratégicos. A Indonésia, por sua vez, busca maior equilíbrio na balança comercial — historicamente deficitária em relação ao Brasil — e pretende diversificar suas exportações com foco em bens de valor agregado.
Durante a coletiva de imprensa, Lula defendeu maior aproximação entre o Mercosul e o bloco asiático ASEAN. Prabowo reforçou que vê no Brasil um parceiro prioritário nas áreas de segurança alimentar, industrialização e transição energética. Os dois países também se comprometeram a ampliar a cooperação multilateral dentro do BRICS, com foco em reformas na governança global e na regulação de plataformas digitais.
O momento geopolítico deu ao encontro um caráter ainda mais simbólico. Enquanto os EUA erguem barreiras comerciais com alegações políticas, o Brasil recebe um parceiro estratégico que aposta na integração entre economias emergentes e na diplomacia multipolar. A visita de Prabowo reforça o projeto de Lula de ampliar a presença internacional do Brasil com base em cooperação, soberania e desenvolvimento sustentável.
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