
Em nova escalada da guerra comercial, presidente americano pressiona Pequim por acesso a terras raras, componentes essenciais para as indústrias de defesa e tecnologia, após China restringir exportações
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a elevar o tom contra a China nesta segunda-feira (25), ameaçando impor uma tarifa de 200% caso Pequim não garanta o fornecimento de ímãs estratégicos ao mercado americano. O alvo é claro: o domínio chinês sobre as chamadas terras raras, minerais cruciais para a fabricação de equipamentos militares, carros elétricos e celulares de última geração. O gesto marca mais um capítulo de uma disputa que, embora disfarçada de guerra comercial, parece cada vez mais um dilema existencial da indústria americana: não consegue viver sem os insumos chineses, mas também não admite depender deles.
A declaração de Trump ocorre como resposta direta às restrições de exportação anunciadas por Pequim em abril, que atingiram ímãs e derivados usados em tecnologias sensíveis. A medida chinesa foi uma reação ao “tarifaço” imposto previamente por Washington. Em tom beligerante, o presidente americano resumiu sua lógica: “A China precisa fornecer ímãs aos Estados Unidos ou eu vou ter de cobrar uma tarifa de 200% ou algo parecido”. E, sem esconder o viés militar do discurso, acrescentou: “Eu não quero apenas defesa, quero também ataque”.
Produzidos a partir de elementos como neodímio, samário e disprósio, os ímãs de alta performance são dominados quase integralmente pela China, que responde por mais de 80% da produção mundial. Essa assimetria transformou o setor em um ponto de atrito inevitável desde 2022, quando o embate tarifário ganhou força.
A tensão se renova apesar de um acordo firmado em maio deste ano, que havia trazido alívio momentâneo. Na ocasião, Washington reduziu tarifas de 145% para 30% sobre produtos chineses, e Pequim baixou de 125% para 10% as suas próprias barreiras. Mas a trégua durou pouco. Trump acusou a China de descumprir compromissos e disparou em suas redes: “A má notícia é que a China, talvez sem surpresa para alguns, violou totalmente seu acordo conosco”.
O Ministério do Comércio chinês rejeitou as acusações e pediu o fim das “restrições discriminatórias” impostas pelos EUA. Pequim chegou a estender, em agosto, por 90 dias, a suspensão de tarifas adicionais sobre produtos americanos, em gesto visto como tentativa de distensionar o quadro. Ainda assim, a Casa Branca não cedeu na retórica — afinal, a lógica de Washington parece ser simples: quando não consegue competir, eleva tarifas e chama isso de estratégia.
Analistas, porém, apontam que a insistência em tarifas punitivas pode sair mais cara para os próprios americanos. Um relatório do Congressional Budget Office (CBO), divulgado na sexta-feira (22), projeta que a política pode reduzir o déficit comercial dos EUA em até US$ 4 trilhões até 2035, mas a fatura virá na forma de queda de produtividade, menor investimento e consumo mais caro.
“Os efeitos negativos de tarifas mais altas se manifestam na redução de investimentos e produtividade”, alerta o órgão.
Na prática, enquanto Trump ameaça a China com sanções comerciais, o risco maior pode estar dentro de casa: preços inflados para famílias e empresas, investimentos retraídos e a ironia de uma potência que, mesmo com todo seu poderio, continua dependente das “terras raras” que brotam no quintal alheio.
Caso de Política | A informação passa por aqui.
#GuerraComercial #Trump #China #Tarifas #TerrasRaras #Economia #Geopolitica #EUAChina