
Em evento do LIDE, ministro que usou a Lei de Segurança Nacional para perseguir críticos de Bolsonaro prega “autocontenção” e é rebatido por Moraes, que defende um Judiciário “independente e destemido” contra a covardia e a vassalagem
Caso de Política | Luís Carlos Nunes – O fórum do Grupo de Líderes Empresariais (LIDE) se tornou palco de um embate aberto entre dois ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). André Mendonça, indicado por Jair Bolsonaro e conhecido por seu passado autoritário à frente do Ministério da Justiça, discursou em defesa de um Judiciário “mais contido”. Sua fala de que “um bom juiz tem que ser reconhecido pelo respeito, não pelo medo” foi imediatamente rebatida por Alexandre de Moraes, que lembrou que respeito se conquista pela independência, não pela submissão.
De forma incisiva, Moraes afirmou:
“Só um Judiciário independente é respeitado. Um Judiciário vassalo, covarde, não é um Judiciário”.
E completou com um recado direto a colegas que cedem a pressões políticas:
“Juiz que não resiste à pressão que mude de profissão”.
A troca de farpas expôs as contradições de Mendonça. Como ministro de Bolsonaro, ele se notabilizou por utilizar a Lei de Segurança Nacional — resquício da ditadura militar – para perseguir opositores. Entre os episódios mais emblemáticos estão:
- Perseguição por um outdoor em Palmas (TO): ordenou investigação contra um sociólogo e um empresário que exibiram a frase “não vale um pequi roído”, em alusão depreciativa a Bolsonaro.
- Intimidação à imprensa: acionou a Polícia Federal contra o cartunista Aroeira e o jornalista Ricardo Noblat por uma charge que associava Bolsonaro ao nazismo.
- Espionagem de servidores antifascistas: sob sua gestão, o Ministério da Justiça elaborou um dossiê secreto com informações de quase 600 servidores públicos que se manifestaram contra o governo.
Essas iniciativas, todas barradas posteriormente pelo próprio Judiciário, mostraram um padrão de instrumentalização do Estado contra críticos e opositores.
Outras polêmicas marcaram sua trajetória. Ainda no governo Bolsonaro, Mendonça atuou para blindar aliados do Planalto em investigações sensíveis e foi acusado de retardar a entrega de relatórios da Polícia Federal em casos que poderiam comprometer o presidente e sua base. Em paralelo, ganhou holofotes ao ser apresentado como o ministro “terrivelmente evangélico” do STF – promessa de campanha de Bolsonaro à sua base religiosa -mas tentou, em sua sabatina no Senado, suavizar essa imagem com a frase:
“Na vida, a Bíblia. No Supremo, a Constituição”.
A contradição também apareceu em sua relação com a Operação Lava Jato. Durante o processo de indicação ao Supremo, Mendonça criticou os excessos da operação para conquistar apoio político. Já na Corte, em decisões posteriores, atuou para validar acordos de leniência ligados à própria Lava Jato, reforçando a percepção de conveniência em sua atuação.
O embate no LIDE, portanto, não foi mero desacordo acadêmico. Representou o choque entre discursos de ocasião e passados que ainda ecoam. Ao rebater Mendonça, Moraes não apenas defendeu a independência judicial, mas expôs o peso da memória recente: o respeito ao Judiciário não se constrói com frases de efeito, mas com a coragem de enfrentar pressões políticas e de proteger a Constituição diante de tentativas de vassalagem.
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